quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Morto, ou artificialmente vivo?



O que mais podemos fazer
Se quando os olhos ofuscados estão,
Se até o palpável se torna distante
Daquilo que um dia constante tocava?

A visão se ofusca, o tato insensível fica
Não há mais o cheiro nem mesmo o ouvir;
O corpo estremece, a alma se esvai.
A dor só não é maior que a lembrança.

Memórias são quase tudo que lhe resta
Às vezes nem isso conseguem ser,
Pois relembrar dos belos momentos
Pode até ser uma centelha de tristeza.

Tristeza em saber que tudo aquilo,
Hoje, apenas são lembranças estáticas.
Lembranças dos tempos de alegrias e prazeres
Agora banais, em face à morbidez.

O tempo que outrora passava tão rápido
(Horas eram como segundos, minutos como milésimos),
Demora outro tempo para se passar,
Pois a perfeição é dependente da pressa.

E a pressa, sempre proporciona pressão.
Agora inerte, tudo isso é distante:
Não há mais pressão, exigências ou instantaneidade;
Apenas gotas caindo, em intervalos eternos.

O eterno e o mortal, separados por gotinhas.
Gotas que sustentam a vida
E mantêm a mortalidade ativa,
Gerando um embate entre a esperança e o sofrer.

Sofrer que pode “acabar acabando”,
Tornando a esperança bem real,
E mostra que a eternidade não é tão distante,
Mas basta que cesse o contínuo gotejar.

Artificialmente vivo. Deitado numa cama.
Querendo a vida, mas vivendo pouco.
O intervalo que passa é apenas para ganhar tempo.

Estatísticas médicas para sobreviver.
Mas não é apenas isso que me importa.
Como sobreviver e não poder usar a vida?

Então, o tempo que me resta
Quero usá-lo aproveitando e vivendo
Com quem eu amo e por quem sou amado.
Deitado em uma cama? Sim, em casa.

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