sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Cara ou coroa


A visão é de uma única paisagem,
O ponto de vista é que vai mudar:
De um lado, um homem e sua família
Que moram em aperto numa palafita;
De outro, um rico empresário,
Em seu novo flat de frente pro mar.

Suas diferenças são logo visíveis,
Não é tão difícil de se destacar:
Se um homem tem tudo o que se precisa
E mesmo assim não cessa o querer,
O outro, nem posses ou dignidade,
E nem esperança para ousar sonhar

Será que alguma coisa eles têm em comum?
O que pode então lhes aproximar?
Eu faço minha síntese, posso lhe dizer
A vida que leva cada um
Não é separada por um longo abismo
Basta com atenção você observar.

Se o pobre homem pobre
Não “liga” para o que vê
Todas as manhãs ao se levantar
E olhar pela porta ou sua janela
Pois lembra de sua desgraça e mazela
E o lindo sol nascente não pode perceber.

De dentro da sala do seu lindo flat
O outro acorda, mas nem observa
Que as luzes do sol refletem no mar
E as aves no céu em bando passeiam
E a brisa refresca o tempo aberto
E tal como aquele, a vida despreza.

Aquilo que faz a diferença na vida
Não é perder algo ou mesmo ganhar
Não é possuir ou mesmo “não ter”
Não é algo simples, visível e aparente;
Se trata daquilo que nós recebemos:
Mordomos nós somos, temos que cuidar.

Se todos os dias a Criação
Com sua beleza é desapercebida;
Se eu não observo o que está à volta,
Não olho pro lado
E o outro não me importa,
Eu tiro o próprio sentido da vida.

E quando eu olho para a natureza
Percebo que tudo é articulado
A flora e a fauna são sempre recíprocas
Tem estações e climas bem diferentes
É apoteótico a sua grandeza
Não dá pra negar: isso foi criado!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Pouca ação e muita festa

O que podemos pensar acerca de manifestações? Pode-se ver muitas, com objetivos ou causas das mais variadas possíveis. Há marcha a favor da homossexualidade; há passeata contra. Marcha a favor da legalização da maconha; e também há marcha contra a legalização.

Greve dos policiais, bombeiros, professores, motoristas e cobradores, bancários e dos Correios. Greve de fome contra a corrupção, algemado na porta do Congresso Nacional. Marcha pra Jesus. Marcha das putas. Correntes em e-mails, Orkut e agora, no Facebook e Twitter. Para muitos, é a aplicação do artigo 5º da Constituição Federal.

Um assunto é comentado por milhares ou milhões de pessoas no Twitter. Na maioria das vezes, são assuntos banais, fúteis ou desnecessários, mas que recebem comentários, apoio ou repúdio. E assim, redes são criadas e fortalecidas, por pessoas que, supostamente, compartilham do mesmo pensamento ou ideologia.

O que me traz certa desconfiança não é o simples fato de protestar ou apoiar algum protesto. Eu observo - e logo, um erro é plausível - que as muitas pessoas fazem algum tipo de manisfestação não por causa do envolvimento, ideais, busca de justiça, equidade e igualdade de direitos. São mani-FESTAS-ção, isto é, a prática quase sempre é esquecida.

Na Parada Gay, muitos manifestantes são heterossexuais, que buscam "curtir" uma micareta gratuitamente, ou mesmo só para "zoar". Num protesto contra o turismo sexual na Eurocopa 2012 (evento futebolístico), mulheres ativistas vão às ruas sem blusas, sutiãs ou alguma pano que cubra os seios.

As correntes de e-mail ou redes sociais são, em muitas das vezes, refutáveis e inadmissíveis, mas tem gente que repassa sem ao menos imaginar e refletir do que se trata. Um coro afinado no Rock in Rio 2011 contra o senador José Sarney não significa nada, pois os mesmos não têm coragem ou vontade de protestar em favor da educação, saúde, direitos de crianças de rua, etc.

É um paradoxo observar que há pessoas que protestam contra a corrupção, mas não resistem à necessidade ou prazer de furar uma fila, colar na prova, copiar trechos da internet e de livros como citação pessoal, não ceder o assento a idosos, gestantes.

Os homossexuais exigem respeito, igualdade e reconhecimento pela sociedade. Entretanto, ao fazerem isso, tornam-se incoerentes, pois ficam dependentes da aprovação da sociedade.

Escrever também um texto desse tipo também não quer dizer muita coisa. Pode-se até pensar que tudo isso é uma ladainha utópica e desprezível. O bom é que da mesma forma que eu pensei tudo isso, alguém pode pensar juntamente comigo. Ou não.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Discurso da insanidade

Os olhos fixos estão
Em algo de aparência anormal;
Uma sombra densa e prolixa
Desfaz os pensamentos mais exatos,
Soprando incertezas pelos ares,
E a calmaria distante parece.

Por um instante chego a pensar
No que pode ser mais perigoso:
A certeza em algo abstrato,
Ou a dúvida pelo real?
A descoberta da verdade “seca”,
Ou a permanência na fantasia?

Bipolaridade. Esquizofrenia. Fuga da realidade.
Chame como quiser, a ideia é sua!
Não fui quem criou esse termo...
Para mim, nada disso existe!
Pode até ser que o louco não seja eu,
Mas o que admite não ser insano.

Eu crio e mudo paisagens;
Refaço as coisas conforme o que quero;
Desenho estradas no céu e nos mares
E outras coisinhas, apenas desprezo.
Eu rio e choro em momentos distintos,
Mas tudo isso dentro do meu mundo.

Tu me chamas de louco?! E o que tu fazes?!
É só comparar as nossas atitudes:
Se a minha busca é fugir do real,
A tua ilusão é pensar que a domina.
E assim, é só perceber
Que a tua parada é também na minha avenida.